segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Papo de Escritor #4 Quem tem medo do seu original?

Minha cena favorita no meu filme favorito: em "Meia-noite em Paris" do Woody Allen, Gil - o personagem do Owen Wilson é um escritor às voltas com seu primeiro romance sério abraçava seus originais enquanto aguardava o encontro com Hemingway. Mesmo tendo experiência como roteirista, a insegurança e o medo o deixavam atordoado, e todo tempo ele questionava suas idéias. O filme termina antes do livro ser concluído.

Comecei a organizar meu livro em 2009, com textos que escrevia desde 2007, coloquei um ponto final em 2011. Já é praticamente 2014 e cadê que consigo senti-lo pronto. Porque é justamente isso que acontece com um livro: não basta decretá-lo pronto. É preciso senti-lo pronto. E Eu não sinto.

Já tive medo de abri-lo e ter de repente uma vontade irracional de rasgá-lo, já tive prazer de abri-lo diariamente e contemplar minha obra, sonhando vê-lo pronto, publicado. Já senti desespero: uma vontade insana de mudá-lo. Já me senti orgulhoso. Já me senti envergonhado.

Queria perguntar aos escritores que admiro. "E aí Bukowisk, como que eu faço?" "Quando é o momento, Lorca?" "Wilde, quando o ponto final é o ponto final?" Na falta dessas respostas, sigo esperando.

Sigo inquieto. Nem sempre motivado, mas o importante: sigo. Um dia ele estará pronto. E eu também.

Hudson Pereira