“Todo escritor carrega em si um herói em potencial.” Talvez
eu tenha lido isso em algum lugar, certamente alguém já disse isso, afinal é
uma verdade tão óbvia, ao menos para mim é.
O primeiro escritor que vi em carne e osso na vida foi o
Zuenir Ventura, eu tinha 14 anos e ele foi a minha escola. Na época eu não
sabia ainda que queria ou viria a escrever, mas muitas coisas que ele disse me
marcaram, a maior delas era que “nossa visão do mundo precisava ser ampla e
independente, sem se contaminar por qualquer voz castradora”. Na época não
entendi muito bem, mas anotei tudo e escrevi uma redação que me rendeu a nota 9,7.
Hoje sei que ali conheci o primeiro super-poder de um
escritor: ele ensina. E eu aprendi muito com todos que já conheci, assisti,
aplaudi. Ferreira Gullar, Afonso Romanno de Sant’anna, Michel Melamed, Antônio
Torres foram alguns que, sem saber, responderam perguntas que eu tinha através
de suas palestras, workshops e me deram o prazer de conhecê-los.
Ao ouvi-los falar sobre seus trabalhos e seus processos
criativos, muitas vezes percebi que tínhamos coisas em comum, muitas vezes vi o
que é ser gênio, o que é ter um olhar singular sobre algo e transportar isso
para a literatura. E é por isso que eu gosto de ir a palestras, saraus: sempre
há algo que eles vão dizer que talvez eu precise ouvir.
Aos poucos, os escritores foram substituindo os personagens
de desenhos, filmes, os popstars e foram se tornando os meus super-heróis.
Muitos deles me salvaram. Isso A literatura salva. Essa é
uma verdade que já foi dita. E esse é o outro super-poder dos escritores: eles
salvam. Incontestável fato. Eu fui salvo por eles e por seus livros quando
escreveram coisas que eu senti e não sabia expressar, ou porque me apontaram
caminhos que eu não conseguiria ver, quando abrem a minha visão das coisas,
porque permitem que eu não me sinta sozinho nesse roteiro desestruturado e mal
que escrito que é a vida.
Bukowski me salvou. Elisa Lucinda me salvou. Antonio Cícero me
salvou. Ana Cristina César me salvou. E quando não me salvaram, me ofereceram
os meios. Uma mão invisível que se estendeu dentro desse breu profundo que se
chama existir.