segunda-feira, 28 de julho de 2014

Poème de mon coeur qui bat I

Ficamos frente a frente com a verdade: nós nos amávamos
e isso era um fato. Incontestável. Inquestionável.
O que podíamos - e devíamos -
era viver lado a lado com essa verdade pela frente
rente ao desejo de ter mais noites como aquela
em que bebíamos em silêncio na sala de jantar
deixando apenas que os gestos falassem.

O tempo se tornaria mais lento entre os momentos
de prazer, a distância cada vez mais incompreensível
mas nada impediu que o que tivesse de ser
fosse completamente imprevisível.

O amor, a paixão, o desejo, o tesão se tornaram
brindes, conforme os corações se tornaram íntimos.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Papo de Escritor #7 Os escritores são heróis

“Todo escritor carrega em si um herói em potencial.” Talvez eu tenha lido isso em algum lugar, certamente alguém já disse isso, afinal é uma verdade tão óbvia, ao menos para mim é.

O primeiro escritor que vi em carne e osso na vida foi o Zuenir Ventura, eu tinha 14 anos e ele foi a minha escola. Na época eu não sabia ainda que queria ou viria a escrever, mas muitas coisas que ele disse me marcaram, a maior delas era que “nossa visão do mundo precisava ser ampla e independente, sem se contaminar por qualquer voz castradora”. Na época não entendi muito bem, mas anotei tudo e escrevi uma redação que me rendeu a nota 9,7.

Hoje sei que ali conheci o primeiro super-poder de um escritor: ele ensina. E eu aprendi muito com todos que já conheci, assisti, aplaudi. Ferreira Gullar, Afonso Romanno de Sant’anna, Michel Melamed, Antônio Torres foram alguns que, sem saber, responderam perguntas que eu tinha através de suas palestras, workshops e me deram o prazer de conhecê-los.

Ao ouvi-los falar sobre seus trabalhos e seus processos criativos, muitas vezes percebi que tínhamos coisas em comum, muitas vezes vi o que é ser gênio, o que é ter um olhar singular sobre algo e transportar isso para a literatura. E é por isso que eu gosto de ir a palestras, saraus: sempre há algo que eles vão dizer que talvez eu precise ouvir.

Aos poucos, os escritores foram substituindo os personagens de desenhos, filmes, os popstars e foram se tornando os meus super-heróis.

Muitos deles me salvaram. Isso A literatura salva. Essa é uma verdade que já foi dita. E esse é o outro super-poder dos escritores: eles salvam. Incontestável fato. Eu fui salvo por eles e por seus livros quando escreveram coisas que eu senti e não sabia expressar, ou porque me apontaram caminhos que eu não conseguiria ver, quando abrem a minha visão das coisas, porque permitem que eu não me sinta sozinho nesse roteiro desestruturado e mal que escrito que é a vida.

Bukowski me salvou. Elisa Lucinda me salvou. Antonio Cícero me salvou. Ana Cristina César me salvou. E quando não me salvaram, me ofereceram os meios. Uma mão invisível que se estendeu dentro desse breu profundo que se chama existir.



terça-feira, 15 de julho de 2014

Fluxo

eu penso
escrevo
eu tento
escrevo
eu sinto
escrevo
me lanço
escrevo
me dói
escrevo
me rói
escrevo
me toma
escrevo
me bebe
escrevo.

o contorno. o realce. o sentido
isso nada tem a ver comigo.




domingo, 13 de julho de 2014

Inquietação

São apenas resíduos
que saem de minhas
mãos essas palavras.
eu sofro para escrevê-las
o sentido não procuro
e não almejo, objeto
de estudo esse desejo
essa imprudência
de escrever poesia
na noite de um
domingo qualquer
de tédio por puro
sentimento de
extermínio desse
coração inquieto.