"Quanto mais velho o escritor fica, melhor ele deve escrever,
ele já viu mais coisas, já aguentou mais, já perdeu mais, está mais perto da
morte."
Charles Bukowski
Como lidar quando seu ídolo literário te surpreende (e
desafia) com uma afirmação dessas?
Comecei a pensar em quem eu era quando comecei a escrever: o
que me motivava? o que eu almejava? o que eu sentia? Eu queria escrever sobre a
vida e o amor por que eu queria entendê-los. Ok, eu, o Fernando Pessoa e todos
os poetas. Ok, ainda quero, por que ainda não entendo: nem eu, nem o Fernando Pessoa e nem
os outros poetas. Mas sei que Pessoa chegou mais perto.
19 anos
Comecei então a me questionar: eu escrevo melhor que anos atrás? Ou será
que as rugas, as mudanças, as experiências amorosas, profissionais e etílicas nada
acrescentaram ao meu texto?
Reli meus primeiros poemas e eram exatamente como eu me
lembrava: doces, ingênuos, bobos – um perfeito retrato daquele garoto que começava a se intitular poeta:
“Quero amar e escrever até o fim”
“Sua boca tão pequena
Traz o universo por dentro”
“Alguns dias, fico em estado de coma
Nada se perde nada se soma”
“Quando a lua ilumina o céu
num degradé azul ameno
só me lembra aquilo que não tivemos.”
Bukowski certamente gargalharia com todas aquelas
bobagens. Bobagens nas quais me reconheço muito pouco hoje, mas são registros
da minha trajetória. Lá se vão quase dez anos que escrevo. O livro que eu já
sonhava publicar ainda não chegou, nem as respostas para as questões mais
elementares. Mas a poesia veio, não a poesia boba e ingênua e sem valor que era
farta, diária e enchia cadernos e agendas da tilibra. Veio a poesia crua, real,
a epifania rara, quase escassa, que vem sempre inesperada, me pega despreparado
e hoje se materializa em moleskines. Os anos passaram e felizmente não sou mais
o mesmo, nem o meu texto. O que permanece é a inquietação, o desejo de ir além
dos presságios. Mas Bukowski ainda ri,
por puro sarcasmo.
Hudson Pereira