Tenho um relacionamento amoroso com Woody Allen. É mais sério
que um caso, menos exigente que um casamento. Ele está sempre disponível, eu
estou sempre de braços abertos.
Porque Woody Allen não faz idéia do que seja a vida, por
isso seus filmes fazem tanto sentido. Porque ele sabe que logo logo tudo acaba,
do amor ao pó de café, por isso é imortal. Porque ele só escreve sobre o agora,
por isso é atemporal.
É o maior cronista de Nova York, mas descreve a Europa como
ninguém. É baixinho e desengonçado, mas fez Diane Keaton e Mia Farrow perderem
a cabeça. Já lutou num ringue com um canguru, ganhou Oscar e tem sua própria
banda de jazz. Se alguém sabe viver é ele. Woody é o cara.
Em seus filmes, final feliz é poder seguir em frente sem ter
enlouquecido de paixão. Grandes paixões? Muitas, e quanto mais complicadas,
melhor. A parte mais sexy de uma mulher? Seu cérebro. Maior fraqueza de um
homem? Um belo par de pernas. Uma dose de neurose com gelo, por favor!
Seus filmes são como o jazz que por sua vez é como a vida:
fluxo. Às vezes não conseguimos acompanhar o ritmo, às vezes não os entendemos.
Mas o que nos guia é sempre o desejo de entrar na dança.