sábado, 27 de dezembro de 2014

Retrospectiva 2014 - le poet rises


2014 foi um ano de muito progresso. Primeiro, porque voltei a escrever com regularidade, porque participei de eventos e saraus, onde fiz amigos e expus meu trabalho, e, especialmente, por ter tido dois poemas publicados em antologias, uma pela indicação que recebi ao Prêmio UFF de Literatura.

Participei ativamente dos saraus Casa de Facas, Corujão da Poesia, Viva Poesia Viva e  Um brinde a Poesia, neste último, tive oportunidade de dizer minha poesia no palco do Teatro Municipal de Niterói. O poesia me levou a um lugar onde nunca imaginei pisar.

A primeira publicação veio a convite da poeta Lucilia Dowslley, que organizou a Antologia 'Um brinde a poesia 15 anos" com poetas de Niterói, Sg e Rio, que escolheu meu poema "Do Poeta" após minha apresentação no evento que ela coordena, no Solar do Jambeiro. 

A segunda publicação veio através do Prêmio UFF de Literatura, no qual meu poema "Antigo Domingo" foi finalista e recebeu menção honrosa, sendo publicado na Antologia do Prêmio.

A grande conquista de 2014 foi ter construído minha identidade enquanto poeta. E claro, sair das gavetas e das publicações virtuais. Foi um bom ano, valeu.


No Palco do Municipal com Lucilia Dowslley
 Com poetas que integram a Antologia UBAP
Capa do Jornal o Fluminense com finalistas do Prêmio UFF

 Na cerimônia de entrega do Prêmio UFF de Literatura






segunda-feira, 3 de novembro de 2014

[sem título]

escrevo sem foco
escrevo sem motivo
escrevo sem projeto
escrevo e nem noto
escrevo e ponto
escrevo e morro
escrevo e volto


terça-feira, 28 de outubro de 2014

adega pérola

tudo acontece em nyc
mas às vezes também acontece
numa adega em copacabana
quando se confessa algumas fraquezas
e fala-se do futuro com ansiedade
mesmo as respostas sendo de cor
a vida acaba parecendo tão bonita
que salta aos olhos
de todos
ao redor.

19.07.14


segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Série ARTISTAS DE RUA


 











sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Pedaços de um caderno manchado de vinho branco

Este poema nasce
sem pretensão alguma de 
ser nada além de 
uma tentativa. Aliás, 
como todos os outros
poemas que escrevi 
não passam de tentativas.

Escrevo bebendo vinho branco português
Bukowski tem razão
a escrita flui melhor
quando a gente 
se embebeda. 
A caneta desliza mais fácil
a vida parece ser bonita
e eu até me sinto
poeta de verdade.






quarta-feira, 1 de outubro de 2014

Leitura II

Leio Cacaso
meio por acaso
e fico pasmo
de como é
opaco
e também
inteiro
esse livro
meio
devaneio
que encontrei
jogado
no sebo
da Barata Ribeiro.


quarta-feira, 17 de setembro de 2014

[O amor]

O amor é flexível. Ele abre, fecha, estica, encolhe mas não arrebenta. O amor é elástico. O amor é a pele que se expande e se retrai para caber o corpo. Nós somos músculos e órgãos. Nós somos corpo. O amor é pele. Pulsamos, crescemos, mudamos. Sem nunca deixar de caber nele.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Factual

Acreditar ser poeta:
Eu caí nessa armadilha.

gastei toda uma vida 
nesse verso
perdi tempo
bati a cabeça na parede
rasguei cadernos
deixei o dia em aberto
em troca desse verbo.

Escrevo.
O máximo que posso.
O melhor que consigo.

Sem ter identidade forte.
Sem ser marginal ou beat.





quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Palavras de mar

Série de micropoemas escritos para o Sarau Casa de Facas: E se inventássemos o mar?





sábado, 16 de agosto de 2014

Linha do trem

(co-autoria com Gustavo Alvaro)

Meu coração é uma linha férrea.
Os dias, o tempo, as estações mudam
mas o itinerário é o mesmo.

Meu amor é vítreo,
minhas mãos são como chapisco de muro:
arranham, machucam
esfolam.

Meu corpo é uma cerca elétrica:
mantenha distância – risco de vida.

Minha boca é fornalha:
minha língua em brasa, queima, ávida.
Você fria,
copo d’água.

Meu coração é um
um trem desgovernado
sem destino
e você, um muro
implacável
no caminho.


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

[Lembrei hoje]

Lembrei hoje. Lembrei daqueles dias. Lembrei. De quando éramos jovens e queríamos beijar a lua. De quando gostávamos de ficar loucos, de ficar acordados até a manhã nascer em transe e não havia o menor problema, o menor questionamento: éramos livres e não sabíamos. Éramos felizes e nem desconfiávamos. Éramos jovens e sabíamos que a alegria era coisa de momento e que não adiantaria sermos menores do que o amor, a compaixão, o álcool, as drogas, o fôlego, a dor e o delírio que compartilhávamos. Vivíamos sem fim e sem começo, só um fluxo contínuo de tropeços e quedas e levantar a cabeça e seguir em frente tentar ser felizes na medida do possível.
Éramos outros. Estávamos vivos.


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Luz Negra

Dessas conversas no meio da noite
iluminadas pelo poste cuja luz entra intrusa neste quarto
guardo só as coisas necessárias
e os momentos de lascívia.

Pela janela o mundo,
aqui dentro: nós e o nada
e a cidade e suas luzes infinitas
pano de fundo das palavras.



segunda-feira, 28 de julho de 2014

Poème de mon coeur qui bat I

Ficamos frente a frente com a verdade: nós nos amávamos
e isso era um fato. Incontestável. Inquestionável.
O que podíamos - e devíamos -
era viver lado a lado com essa verdade pela frente
rente ao desejo de ter mais noites como aquela
em que bebíamos em silêncio na sala de jantar
deixando apenas que os gestos falassem.

O tempo se tornaria mais lento entre os momentos
de prazer, a distância cada vez mais incompreensível
mas nada impediu que o que tivesse de ser
fosse completamente imprevisível.

O amor, a paixão, o desejo, o tesão se tornaram
brindes, conforme os corações se tornaram íntimos.



quarta-feira, 23 de julho de 2014

Papo de Escritor #7 Os escritores são heróis

“Todo escritor carrega em si um herói em potencial.” Talvez eu tenha lido isso em algum lugar, certamente alguém já disse isso, afinal é uma verdade tão óbvia, ao menos para mim é.

O primeiro escritor que vi em carne e osso na vida foi o Zuenir Ventura, eu tinha 14 anos e ele foi a minha escola. Na época eu não sabia ainda que queria ou viria a escrever, mas muitas coisas que ele disse me marcaram, a maior delas era que “nossa visão do mundo precisava ser ampla e independente, sem se contaminar por qualquer voz castradora”. Na época não entendi muito bem, mas anotei tudo e escrevi uma redação que me rendeu a nota 9,7.

Hoje sei que ali conheci o primeiro super-poder de um escritor: ele ensina. E eu aprendi muito com todos que já conheci, assisti, aplaudi. Ferreira Gullar, Afonso Romanno de Sant’anna, Michel Melamed, Antônio Torres foram alguns que, sem saber, responderam perguntas que eu tinha através de suas palestras, workshops e me deram o prazer de conhecê-los.

Ao ouvi-los falar sobre seus trabalhos e seus processos criativos, muitas vezes percebi que tínhamos coisas em comum, muitas vezes vi o que é ser gênio, o que é ter um olhar singular sobre algo e transportar isso para a literatura. E é por isso que eu gosto de ir a palestras, saraus: sempre há algo que eles vão dizer que talvez eu precise ouvir.

Aos poucos, os escritores foram substituindo os personagens de desenhos, filmes, os popstars e foram se tornando os meus super-heróis.

Muitos deles me salvaram. Isso A literatura salva. Essa é uma verdade que já foi dita. E esse é o outro super-poder dos escritores: eles salvam. Incontestável fato. Eu fui salvo por eles e por seus livros quando escreveram coisas que eu senti e não sabia expressar, ou porque me apontaram caminhos que eu não conseguiria ver, quando abrem a minha visão das coisas, porque permitem que eu não me sinta sozinho nesse roteiro desestruturado e mal que escrito que é a vida.

Bukowski me salvou. Elisa Lucinda me salvou. Antonio Cícero me salvou. Ana Cristina César me salvou. E quando não me salvaram, me ofereceram os meios. Uma mão invisível que se estendeu dentro desse breu profundo que se chama existir.



terça-feira, 15 de julho de 2014

Fluxo

eu penso
escrevo
eu tento
escrevo
eu sinto
escrevo
me lanço
escrevo
me dói
escrevo
me rói
escrevo
me toma
escrevo
me bebe
escrevo.

o contorno. o realce. o sentido
isso nada tem a ver comigo.




domingo, 13 de julho de 2014

Inquietação

São apenas resíduos
que saem de minhas
mãos essas palavras.
eu sofro para escrevê-las
o sentido não procuro
e não almejo, objeto
de estudo esse desejo
essa imprudência
de escrever poesia
na noite de um
domingo qualquer
de tédio por puro
sentimento de
extermínio desse
coração inquieto.


sexta-feira, 27 de junho de 2014

Passion for coffee #3

A necessidade básica do coração humano durante uma grande crise é uma boa xícara de café quente.
Alexander King

Café Pingado - Paraty
Casa da minha amiga Mônica Montone
Bon Vivant Bistrô
Bistrô Paço
Artesanato do Café
Beira-mar
Manuê Sucos - Paraty
Casa Cavé
 Confeitaria Colombo
Esch Café
Café Icaraí
Café Icaraí
Café Capital
Charutaria Syria

terça-feira, 24 de junho de 2014

Papo de Escritor #6 O Tempo e o Texto

"Quanto mais velho o escritor fica, melhor ele deve escrever, ele já viu mais coisas, já aguentou mais, já perdeu mais, está mais perto da morte." 
Charles Bukowski

Como lidar quando seu ídolo literário te surpreende (e desafia) com uma afirmação dessas?

Comecei a pensar em quem eu era quando comecei a escrever: o que me motivava? o que eu almejava? o que eu sentia? Eu queria escrever sobre a vida e o amor por que eu queria entendê-los. Ok, eu, o Fernando Pessoa e todos os poetas. Ok, ainda quero, por que ainda não entendo: nem eu, nem o Fernando Pessoa e nem os outros poetas. Mas sei que Pessoa chegou mais perto.

19 anos

Comecei então a me questionar: eu escrevo melhor que anos atrás? Ou será que as rugas, as mudanças, as experiências amorosas, profissionais e etílicas nada acrescentaram ao meu texto?

Reli meus primeiros poemas e eram exatamente como eu me lembrava: doces, ingênuos, bobos – um perfeito retrato daquele garoto que começava a se intitular poeta:

“Quero amar e escrever até o fim”

“Sua boca tão pequena
Traz o universo por dentro”

“Alguns dias, fico em estado de coma
Nada se perde nada se soma”

“Quando a lua ilumina o céu
num degradé azul ameno
só me lembra aquilo que não tivemos.”



Bukowski certamente gargalharia com todas aquelas bobagens. Bobagens nas quais me reconheço muito pouco hoje, mas são registros da minha trajetória. Lá se vão quase dez anos que escrevo. O livro que eu já sonhava publicar ainda não chegou, nem as respostas para as questões mais elementares. Mas a poesia veio, não a poesia boba e ingênua e sem valor que era farta, diária e enchia cadernos e agendas da tilibra. Veio a poesia crua, real, a epifania rara, quase escassa, que vem sempre inesperada, me pega despreparado e hoje se materializa em moleskines. Os anos passaram e felizmente não sou mais o mesmo, nem o meu texto. O que permanece é a inquietação, o desejo de ir além dos presságios. Mas Bukowski ainda ri, por puro sarcasmo.

Hudson Pereira