Todo mundo já viu esse filme: uns amigos sentam num bar,
fazem o pedido e ,conversa vai conversa vem, começam a falar do relacionamento
daquele amigo que não está presente.
Uns torcem pela felicidade, outros comentam levemente sobre
a personalidade de ambos e eis que uma entidade muito ácida se manifesta: o
analista crítico do relacionamento alheio. É aquele amigo que discorda de todas
as decisões, e tem sempre um “conselho muito bom pta dar”, mesmo sem ninguém
pedir. Ele começa com discrição e, de repente, solta um comentário tão cruel
que os outros sequer conseguem interagir.
Muito bem, uma historinha de um sábado à noite: um rapaz
resolveu comemorar seu aniversário no local escolhido pelo novo amor, e não
onde ele e seus amigos costumam ir. Se alguém se incomodou, nada disse. Com
exceção, claro, do analista: “ É um absurdo a gente ter que vir pra cá quando
todo mundo queria ir pra outro lugar e blá, blá, blá...”. Eu, do outro lado da
mesa, ouvi calado, mas minha vontade foi responder: “Ô querido, relacionamento
é assim mesmo...”. Mas é?
Quando se começa um relacionamento, hábitos, parâmetros,
vontades mudam automaticamente, é quase que uma regra ceder mais, agradar mais,
principalmente no primeiro mês, que era o caso. E digam o que disserem
psicólogos e revistas de comportamento, não importa, a realidade é essa: o “eu”
vira “nós” nos primeiros 5 minutos de jogo, digo, namoro.
Quem está de fora até percebe os exageros, mas não fala nada
porque sabe que em lua-de-mel ninguém mete a colher, o analista crítico do
relacionamento alheio não só se mete como analisa profundamente a relação com uma
sabedoria saída de livros de auto-ajuda de 9,90. E se você não der um basta,
ele vira a terceira pessoa da relação.
O analista da historinha acima também estava começando um
namoro na mesma época que o outro casal. O do casal vai bem, obrigado. O do
analista não. Coitado.
Hudson Pereira